09 março 2010

Nô Kume Sabi: a chegada à Guiné





“Só tivemos um desnutrido grave o ano passado. E foi em Dezembro”, conta-me Nunki, meio desiludido por esta criança lhe “estragar” as estatísticas. É o responsável pela farmácia e pelos registos do Centro de Recuperação Nutricional (CRN) de Cacheu, Guiné-Bissau, onde as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora da Aparecida, em parceria com o ISU - Instituto de Solidariedade e Cooperação Universitária, desenvolvem, desde 2006, o projecto Nô Kume Sabi, de combate à desnutrição materno-infantil, articulando o estímulo à produção local, com a alimentação alternativa.
Estou em Cacheu há dois dias, há um mês em solo guineense e procuro conhecer todas as dinâmicas e procedimentos do Centro de Produção e do CRN de Cacheu: segundas e quartas-feiras são dias de Tabanka, uma espécie de serviço ambulatório que leva às populações isoladas consultas gratuitas e permite fazer um controlo nutricional das crianças; terças e sextas feiras são dias de atendimento no CRN, de crianças num dia e grávidas no outro. Fazem o atendimento e controlo de crianças em situação de desnutrição, pesam-nas e medem-nas e ensinam às mães a preparar refeições equilibradas e diversificadas com produtos locais. Ás grávidas é dada formação, que as prepara não só para o período da gravidez, mas também para os cuidados a ter com os filhos.

“A formiga afunda-se num copo de leite materno como se afoga se a colocarem num copo de água. O vosso leite é bom e é, aliás, o mais rico alimento que podem dar nos primeiros seis meses de vida”, explica um dos animadores procurando desmistificar um dos muitos mitos existentes que levam as mães a abandonar a amamentação porque considerarem que o leite é mau para o bebé.

O objectivo é claro e insinua-se nas diferentes actividades do projecto: dar a conhecer os benefícios de uma alimentação rica e variada como essenciais e como a base para uma vida saudável e um desenvolvimento normal.

Centro de Produção: a Multimistura

Ao mesmo tempo, a cerca de 500 metros, e dentro do espaço da Missão, os trabalhadores do Centro de Produção lavam, secam, descascam e pilam os alimentos que depois de triturados e transformados vão compor a Multimistura, a Farinha de Cabaceira ou a Papa de Milho Preto. Os ingredientes são comprados a produtores individuais nas Tabankas de Cacheu, fomentando a economia da região e aumentando os rendimentos familiares, numa região onde produção agrícola familiar é cada vez menos variada e mais insuficiente, o que contribui para a precariedade da saúde da população e para o surgimento de numerosos casos de desnutrição, essencialmente na população infantil.

Compra-se a cabaceira, a moringa e o farelo de arroz. O caju, a folha de batata e a folha de mandioca são cultivados no espaço da Missão. Os ingredientes são transformados, junta-se o Farelo de Arroz e a Multimistura está pronta a ser embalada em embalagens de 100gr, disponibilizadas ao público por 500 francos CFA.

A Multimistura é um suplemento alimentar, feito à base de produtos locais, muito rica em nutrientes (ferro, proteínas e vitaminas), que em geral, não estão presentes na dieta alimentar da Guiné Bissau, baseada no consumo de hidratos de carbono.
Considera-se que o consumo da Multimistura tem desempenhado um papel muito importante para travar o surgimento de mais casos de desnutrição, tendo essencialmente um carácter preventivo, como defende o texto do documento de validação da MM, emitido pelo Ministério da Saúde da Guiné-Bissau.

Formação

“As proteínas são os elementos construtores e encontram-se no peixe, na carne, ovos…”, diz Miro enquanto mostra um cartaz com uma casa com tijolos que põe em imagens o que acaba de dizer. Não existe qualquer espécie de consciência alimentar e a alimentação responde a um instinto biológico. É preciso mostrar que cada tipo de nutrientes tem uma função específica e que são fundamentais para o desenvolvimento. “As proteínas para construir, as vitaminas para afastar as doenças e os minerais para regular as funções do organismo”. Faz-se educação alimentar, educação para saúde e para os cuidados com a higiene, promove-se ao consumo de produtos locais, o cultivo e as hortas comunitárias.
A formação é uma das actividades da minha responsabilidade quando faço o acompanhamento aos CRN. Serão mais de 50 as visitas este ano e muitas as formações. Pelo que já me pude aperceber a heterogeneidade predomina ao nível dos CRN, havendo uns totalmente auto-suficientes e outros com inúmeras deficiências.... Trabalho não falta, num país em que quase tudo parece estar por fazer.

Margarida Madureira
Março 2010
Guiné-Bissau

5 comentários:

Jo, a verdii disse...

Bom trabalho Margarida!

Francisco disse...

da-lhe aí guidex! :)
sobretudo nao te esquecas que tens muito para receber tambem
continua a ir escrevendo coisas!
beijinhos beijinhos e ate ja!

Anónimo disse...

oi guidinha!!

que saudades e ao mesmo tempo que bom que estás ai!!

Manda um beijinho muito grande á irmä sol!! e a Lucianne ainda está na guiné? e a irma teresinha?!!

manda também beijinhos aos animadores ao Nuki a felizmina ao Miro e a todos os outros!!


É mt bom saber que o projecto está a correr bem

abracos beijinhos e muita muita forxa

Teresa

Anónimo disse...

Excelente trabalho Margarida!

Força aí nessas construções...

Abraço,

Amândio Rodrigues

Anónimo disse...

congratulo-me com o empenho e dedicação que põe neste trabalho.É bom ver como jovens como a Margarida, têm tanto para dar.Desejo-lhe as maiores felicidades,força e entusiasmo para prosseguir.O RETORNO será GRANDE.